segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Dom Quixote

Nos acostumamos a ouvir desde sempre que corajosos são aqueles que nunca desistem, que seguem firmes e avançam até as últimas consequências, sem se importar com o resultado.
Acreditei piamente nesta máxima durante muitos anos. E reconheço que, na maioria das vezes, colhi bons frutos sendo perseverante. Nada na vida é fácil, e ter a coragem de avançar é, as vezes, uma estratégia válida para alcançar seus objetivos.
Mas a teimosia também acarreta, em muitas oportunidades, tombos grandiosos e decepções inclassificaveis. Ser 'cabeça-dura' causa enxaquecas que nem o mais potente remédio é capaz de curar.
Mas como fazer, então? Não há saída? Quando sabemos que o que pensamos ser a coragem em não desistir, não passa, na verdade, de pura teimosia, infundada e infrutífera?
Temo não ter essa resposta. Pelo menos, não como uma receita de bolo, pronto para ir ao forno. Trata-se de uma questão repleta de subjetividade, onde o único norteador somos nós e nossas consciências.
O que posso dizer, sem medo de errar, é que saber a hora certa de desistir pode prescindir de tanta coragem quanto continuar a batalha.
O primeiro aspecto que toma conta daquele que abrevia o caminho sem atingir o objetivo, é um doloroso sentimento de derrota. Na nossa cultura, desistir antes do fim é o maior sinônimo de perdedor que temos. Pague qualquer preço, mas chegue ao fim! Não gostamos de perdedores!
Não posso conceber que existam pessoas que não sabem diferenciar uma retirada estratégica de puro acovardamento. Se retirar de maneira consciente não denota fraqueza, e sim, inteligência e sagacidade para perceber quando um obstáculo não pode ser vencido. Tentar ir de encontro a batalhas que não podemos ganhar, pode ser um sinal de coragem, ou simplesmente, uma burrice sem tamanho.
Dom Quixote, de Miguel de Cervantes, é uma das fábulas mais conhecidas de todos os tempos. Basicamente, é a história de um cavaleiro que viveu muitas batalhas em sua vida e era reconhecido por sua coragem inesgotável. O problema todo é que, ao cair ao ostracismo, as batalhas passaram a ser travadas contra moinhos de vento.
Apesar da insistência das pessoas em avisá-lo de que não eram gigantes, Dom Quixote, no alto de toda sua corajosa teimosia, não dava ouvidos aos que tentavam alertá-lo, e continuava a luta contra seus 'inimigos'.
A escolha é totalmente pessoal. Saber a diferença entre o que é covardia, ou apenas abrir mão de algo para evitar prejuízos maiores é o melhor caminho. Agora, você pode querer enxergar a poesia das batalhas contra moinhos de vento e preferir lutar uma luta perdida, que se não te leva a lugar nenhum, ainda pode tirar coisas importantes, como sua sanidade.

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