segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Falando sozinho

Tenho percebido que cada vez menos sinto vontade de falar, sobre qualquer tema, com qualquer pessoa. No início, ao perceber isso, pensei ser um problema meu. Um processo de introspecção tardia, ou talvez o acúmulo dos problemas inerentes à vida adulta cobrando seu preço.

Porém, após refletir algumas boas horas sobre isso, descobri não se tratar de nada disso. A coisa é bem pior do que eu imaginava: simplesmente parei de falar pois as pessoas, atualmente, não querem mais ouvir ninguém, somente o som doce de sua própria voz.

Mas antes que alguém se apresse a me contrapor, explicou que não se trata de um "complexo de vira-latas" que estou sendo acometido. Esse fenômeno não ocorre somente comigo. Estamos todos assim. Ninguém escuta ninguém. A moda, atualmente, é falar - e muito -, não importando o interesse do interlocutor, ou seu embasamento sobre o tema. A famosa ciranda do “quanto mais, melhor”.

A modernidade possibilitou a um maior número de pessoas a possibilidade de se expressar para um público maior, que vai muito além de nosso círculo de amizades ou familiar. Entretanto, há um paradoxo nisso: todos se sentem impelidos a opinar, o tempo todo, sobre tudo, sendo que quase ninguém quer realmente saber todas as suas opiniões.

O que deveria se tornar algo benéfico, acabou por ensurdecer as pessoas. A sensação de que esse aumento no volume de opiniões melhorou a comunicação é uma enorme falácia. Nunca nos comunicamos tão mal como nesse século. E as coisas tendem a piorar ainda mais.

É um enorme mundo de solidão, onde falamos ao vento, nos enganando sobre uma pseudocomunicação que, na verdade, é danosa para o convívio humano. Não recebemos mais opiniões distintas das nossas, o que nos isola em um universo de simplificação que, sem a contradição, o contraponto, na verdade, se tornará um enorme buraco negro, para onde a humanidade está sendo sugada, sem nem ao menos lutar, uma vez que, mesmo que gritássemos a plenos pulmões, ninguém ouviria.

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