quarta-feira, 16 de novembro de 2011

O tempo voa

Sempre ouvi de várias pessoas a célebre frase "a vida é curta". Confesso que achava tudo isso uma grande choradeira de gente fracassada, que não soube aproveitar o tempo que esteve à sua disposição durante sua vida.
Aproveitei como um doido o meu tempo. Não vou entrar no mérito pessoal de como cada um considera o que é "aproveitar" o tempo. Em alguns casos, aproveitar é ler bons livros, conhecer pessoas interessantes, estudar bastante para ser alguém. Os dois primeiros itens citados eu até concordo, até mesmo porque, em determinados momentos, foi exatamente o que fiz.
Mas o principal do "curtir a vida", ao meu ver, foram as festas, as mulheres, as noitadas, o álcool, os cigarros, as partidas de futebol e vôlei, as viagens para a praia e para a serra. Tardes e mais tardes de jogos do Grêmio no Monumental, de onde saia já sem voz e de alma lavada na vitória, ou de mal com o mundo na derrota.
Indo mais longe: Curtir a vida foi matar aula e ir tomar chopp no Chalé da Praça XV, isso já na faculdade, ou matar aula no técnico em informática para jogar sinuca e tomar cerveja no Piovesan. E indo até mais longe, aproveitar, ao meu ver, foi matar aulas no Dom Diogo para jogar volêi a manhã toda, ou simplesmente para ficar de papo com a galera no pátio, em meio ao cigarro que havia disponível para o momento. Confesso que estar presente na aula nunca foi muito meu forte.
O curtir a vida, para mim ao menos, sempre foi me expor ao risco. Beber até altas-horas e caminhar em zigue-zague até a casa de minha mãe em Alvorada (para os que sabem a fama da cidade, isso já basta). Curtir foi sofrer acidente de carro as 3 da manhã. Não que eu me orgulhe disso. Pelo contrário, na verdade, hoje sei que passei a temer a morte após aquele acidente, que por sinal, só não deu uma merda pior porque realmente não era para acontecer. E a saudoza do homem-aranha da praça Poncho Verde? E o futebol contra a maloqueirada da Vila Nazareth? E o dia que saímos dando porrada num cara que estava batendo em uma mulher e, somente algum tempo depois, descobrimos que a vaca tinha roubado a carteira do magrão no bar? E a briga no fim da linha do T6, contra o pessoal da Garra?
Poderia escrever milhões e milhões de linhas sobre tantas coisas que fiz na minha vida. Coisas boas, outras nem tanto. Mas foram momentos e mais momentos, cada um com sua particularidade, cada um com sua história própria. Vivi muito, curti muito, não vou negar isso.
Mas retomando a primeira linha deste texto, hoje, caminhando a largos passos rumo os 30 anos, percebo que sim, a vida realmente é curta demais. Pisquei os olhos algumas vezes e já cheguei na metade da vida que considero "vida útil", antes da máquina degringolar e começar a dar problema, limitando demais a vida. Mais algumas piscadelas e pronto! A vida terá passado completamente e estarei eu, sentado em algum sofá da vida, com dor nas juntas, sem memórias, sem lembranças de quem fui ou do que fiz, rezando vergonhosamente pela hora da morte que se aproxima.
Até pouco tempo atrás, parecia que eu tinha todo o tempo do mundo. Tudo parecia uma eternidade. As coisas, simplesmente, demoravam demais. Mas hoje, acredito que tenha descoberto o porque disso. Não que o tempo tenha passado mais devagar. Na verdade, era eu que não tinha a paciência necessária para esperar as coisas no seu tempo correto. Hoje, daria tudo pelo tempo que insisti que passasse.
Não pensem nesse texto como um texto triste, de lamentações. Pensem nele mais como um aviso, um recado aos que vem depois de nós. Não seja idiotas, como eu fui. Aquele papo dos pais que nunca ouvimos, sabem? Pois bem, ouçam, pois tudo que eles nos dizem, e que nos soam como zombarias mentirosas, na verdade, é a mais pura verdade.
Não se apressem em ter mais idade. Na verdade, se houver como optar, não cheguem na nossa idade. Não vale a pena. São muitas preocupações, poucos cabelos na cabeça, responsabilidades, sonhos que descobrimos serem impossívels, cagadas que fazemos e que não podemos consertar pedindo simples desculpas. Não, ser adulto não é legal.
Agora preciso parar de escrever pois meus dedos já começaram a doer por conta da digitação e preciso de um analgésico e um copo de café... Coisas da idade. Vocês ainda não entendem disso.

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