terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

E o Brasil não tem jeito mesmo...

Renan Calheiros, Fernando Collor, José Sarney e José Genoíno. Todos nomes bastante conhecidos, muito mais por seus atos 'escusos' do que por serem pessoas corretas e de caráter ilibado. Coincidentemente, todos, atualmente, são dotados de mandatos legislativos, graças aos votos recebidos nas eleições que disputaram.

O processo político brasileiro está errado por permitir essas anomalias? Bem, possivelmente sim, afinal de contas, são estes mesmos sujeitos e seus pares que criam e aprovam as Leis que, na teoria, deveriam ser seguidas por cada um dos brasileiros. Não existe segregação. Quem cria as leis, as cria em seu próprio benefício, ou vocês acham que algum parlamentar tem interesse real no ficha-limpa, ou no financiamento de campanha estatal, normatizado e igualitário?

Também existe outro fator que não podemos desconsiderar: a juventude do processo democrático brasileiro. Nossa democracia - no sentido mais pleno da palavra - não tem mais que vinte e cinco anos de existência. Entre idas e vindas, entre Getúlio Vargas, República do Café com Leite e os Anos de Chumbo, pouco experimentamos o 'jogo democrático', se nos compararmos a países onde a democracia é um fato consolidado há bem mais tempo.

Ainda estamos em fase de adaptação e ajustes de nossos processos democráticos. É possível (e provável) que ainda, durante algum tempo, anomalias nestes processos sejam identificadas. Porém, o desgaste que nossa jovem democracia demonstra já é evidente.

Além destes aspectos que destaquei acima, existe um fator determinante para que as coisas ainda não aconteçam da forma com que deveriam: o povo.

Ah, o povo! Massa tão delirante durante as copas do mundo. Uma nação que não tira os olhos da TV e invade as redes sociais para comentar o último eliminado do Big Brother. Pena que os anos de silêncio forçados por conta de ditaduras brancas e negras, onde o estado controlava tudo que era dito, escrito e pensado, ainda pairam como uma nuvem poeirenta sobre esse povo tupiniquim.

Nosso povo passou tanto tempo deixando o estado pensar por ele, que acabou sofrendo um processo de 'atrofia cerebral'. "Brasil, ame-o ou deixe-o!", "país do futuro", "milagre econômico" e mais um sem fim de falácias, pregadas insistentemente durante décadas, transformaram o povo desta nação em uma massa de manobra uniforme, facilmente controlada por discursos vazios e demagógicos, pregados por idealistas de meia-tigela, sejam estes de direita ou esquerda (e como é difícil de diferencia-los atualmente!).

Agora, voltemos aos nomes que transcrevi no início deste texto: Renan Calheiros, Fernando Collor, José Sarney e José Genoíno. Os três primeiros, filhotes declarados da ditadura e das oligarquias nordestinas. Coronéis, com colégios eleitorais fartos de pessoas famintas, com pouca educação, sedentos por uma cesta-básica e uma dentadura. O que ganhariam estes ilustres senhores melhorando as condições de vida em seus currais? Destinando recursos para educação, segurança e projetos sociais? Na verdade, perderiam seu poder de controle sobre a massa. Por isso, esqueçam que isso algum dia mudará, pois eles jamais permitirão.

Mas e na outra ponta? José Genuíno. Militante de esquerda, preso político, torturado durante a ditadura, sujeito esclarecido. Um dos fundadores do oásis político brasileiro do fim dos anos 70. O Partido dos Trabalhadores surgiu para ecoar a voz do povo perante os poderosos, que acumulavam riqueza e subjugavam seu povo, pobre e oprimido. Seria a salvação contra os desmandos dos políticos de carreira que se fortaleceram durante o regime militar. O PT mudaria a história deste país!

Em 89, manobras sujas de certa empresa de entretenimento de massas, em conluio com os caciques e marajás, já temerosos pela eminente possibilidade de perder as mamatas e ver o país se transformar em uma "Nova Cuba", adiaram o sonho de liberdade de nosso povo sofrido.

Em 94 e 98, FHC, apoiado por gente graúda, além de ter sido o mentor do Plano Real, não tinha adversários a sua altura. O fim da inflação e uma moeda corrente verdadeiramente forte adiaram, novamente, o sonho de um presidente do povo, para o povo.

Em 2002, finalmente, o sonho se tornou realidade. Um certo barbudo, ex-metalúrgico, é elevado ao poder, contra tudo e todos. Enfim, o povo conseguiu arrancar as amarras e mordaças que o prendia há séculos. Um novo país! Só que não...

O PT perdeu a inocência. Seus líderes perceberam que não poderiam tocar o país na base de romantismo e livros de Marx. Passou a jogar o jogo. Foi obrigado a entrar na dança e sujar os pés de lama, assim como todos que o antecederam. Se não adota esta postura, correria um enorme risco de quebrar o Brasil e ser apagado da história, ou ser transformado em um exemplo a não ser seguido.

Os trabalhadores viram seu partido mudar de lado. Não era mais o partido dos metalúrgicos, das domésticas, dos filósofos, dos artistas. Agora, é o partido que está no poder e, portanto, precisa atender aos interesses de quem verdadeiramente o mantém lá. Faz alianças com inimigos antigos, faz lobby por seus interesses e pelos interesses de seus aliados. Age na calada da noite, quando algumas de suas atitudes dariam muito pano para a manga.

E é nesta parte da história que temos o Sr. José Genuíno, bem como temos José Dirceu, Marcos Valério, o Delúbio e outros tantos, que em nome da manutenção do poder, se converteram naquilo que mais combatiam enquanto habitavam do lado esquerdo da força. Tornaram-se escravos de uma realidade que lhes parecia errada, mas que hoje, nada mais é que a única forma que conhecem para se manter no topo, esquecendo-se novamente do povo e do lugar de onde vieram. Hoje, são aquilo que mais menosprezavam, apenas filhos "bastardos" da ditadura.

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