segunda-feira, 15 de julho de 2013

Em algum lugar, não muito longe daqui (Parte VI)

Vendo aquele cenário de iminente abandono, amaldiçoou Ana: “- Mas que merda!”, praguejou, num resmungo cheio de ódio e rancor. Resignado, apanhou o copo que repousava sobre a banqueta e o deixou na pia.
Sentiu vontade de chorar ali parado na cozinha, quando percebeu que na borda do copo, as marcas do batom vermelho de Ana estavam tatuadas, como se fossem marcas de um beijo que ele desejava mais do que tudo, mas que, naquela noite, devido às circunstâncias, não poderia mais ter.
Voltou à sala, sentou-se no sofá e começou a divagar sobre Ana: o que ela escondia? Porque não lhe contava toda a verdade e deixava-o ajudar? Amava-a muito e, por certo, nada do que ela escondia o faria ama-la menos.
Ao mesmo tempo, por outro lado, passou a temer o que ela estaria escondendo. E se fosse uma foragida? Tivesse matado alguém? Ou então, fosse uma fugitiva do manicômio, solta pela cidade, fazendo suas loucuras e cativando os corações dos imbecis apaixonados, feito ele?
Soltou uma breve gargalhada, nervosa, para espantar estes pensamentos estapafúrdios da mente. Fez força para acreditar que suas ideias não passavam de loucura, coisas de quem leu muitas histórias policiais de Agatha Christie na adolescência.
Já passavam das 3h40 quando, finalmente, cansou daqueles pensamentos insólitos e decidiu deitar-se. Assim como tantos outros fazem, começou a calcular quantas horas dormiria deitando-se àquela hora e concluiu que o seu dia seguinte seria doloroso, devido a privação do sono.
Apagou a luz da sala. Pensou em passar no banheiro para escovar os dentes, porém, desistiu quase imediatamente disso, pois imaginou o quanto essa tarefa lhe tomaria minutos importantes e que poderia dedica-los ao sono. Desta forma, limitou-se a arrastar seu corpo cansado até o quarto.
Na total penumbra, entrecortada pelos feixes de luz dos faróis dos carros que, sorrateiramente, invadiam seus quarto através dos vãos de suas persianas, tentava acostumar os olhos ao escuro, para tornar mais fácil a tarefa de encontrar o local certo para desabar. Entretanto, assim que entrou, percebeu algo diferente. Para ser mais exato, um perfume havia tomado conta daquele ambiente. Era o perfume de Ana.
Parou por um instante, forçando os olhos em direção a sua cama e, para sua surpresa, logo percebeu que ela dormia sobre seu travesseiro. Acendeu a luz de leitura que ficava sobre uma mesinha, ao lado da cama, e pode ver com clareza, Ana dormindo profundamente, com os lindos lábios entreabertos.
(Continua...)

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