quinta-feira, 14 de maio de 2015

Retratos e histórias

Dias atrás, em um grupo formando pelos meus ex-colegas do ensino médio no WhatsApp, do qual participo, uma das minhas colegas da época postou diversas fotos antigas que ele havia encontrado em meio a seus álbuns velhos. Nestas fotos, adolescentes faziam pose, em meados do final década de 1990. Quem eram esses adolescentes? Nós mesmos, os integrantes do grupo.

Nossa primeira reação, como imagino ser a reação de qualquer pessoa ao ver uma foto antiga, foi o constrangimento. Com relação às roupas, ou à nossa própria figura ou, até mesmo, à alguém que eventualmente apareceu nas fotos e que, por qualquer razão, já tínhamos feito questão de deixar lá no passado.

Confesso que tive essas reações também, e creio que é uma reação natural a todos quando passam por uma situação dessas. Porém, passado o impacto inicial das imagens, comecei a olhar para aqueles rostos juvenis novamente, e não pude evitar pensar em o quanto éramos felizes.

Mas não pense que esse texto é uma louvação ao passado, ou que se trata de um acesso nostálgico, daqueles em que cometemos inúmeras injustiças com vários momentos de nossas vidas. Trata-se de algo mais filosófico e infinitamente mais sútil. Penso mais nos caminhos que me fizeram vir de lá, daquele exato momento onde a foto foi tirada, até aqui, enquanto escrevo esse texto.

Percebo que, fisicamente, mudamos muito! Uns mais, outros menos, alguns completamente. Mas será que mudamos a essência? Falo isso pois percebo hoje, que a maioria de nós, apesar dos mais de 16 anos decorridos desde a captura das imagens, continua sendo – para minha surpresa - os mesmos que sempre fomos.

Claro que as inúmeras experiências que adquirimos ao longo do tempo ajudaram - e muito - a nos tornarmos quem somos hoje. Mas nunca devemos esquecer de quem "verdadeiramente" sempre fomos.

Ainda somos aquelas pessoas das fotos. Meninos e meninas que sonham com algo melhor. Ainda sentimos medo e dor, sorrimos e choramos, e isso nunca haverá de mudar. Não nem podemos permitir que isso mude. Se uma pessoa perde sua essência, é bem provável que ela já tenha perdido quase tudo que valia a pena na vida.

Os vejo nas fotos e quase consigo enxergar seus sonhos, seus ideais e projetos. Aqueles rostos eram o sinônimo da esperança, que somente uma folha em branco - como eram nossas vidas naquele instante - é capaz de representar. À partir dali, pegamos nossas canetas esferográficas e blocos de papel e, diariamente, fomos preenchendo as páginas da vida com nossa grande história. Fomos anotando, palavra por palavra, nossas alegrias, tristezas, triunfos e derrotas. A caligrafia nem sempre esteve a contento. Existem borrões, erros de português e concordância, e até mesmo, alguns “smiles” amarelos e sorridentes desenhados em um dos cantos. Ao fim de tudo, só teremos esse grande livro, de capa dura, muito bonito de se ver, mas que não será lido por ninguém.

Será que aqueles jovens sabiam, por detrás de todos aqueles sorrisos, mesmo que inconscientemente, que nunca teriam uma borracha para apagar seus erros? Acabamos descobrindo, cedo ou tarde, que nosso livro não aceita rasura, tampouco podemos, simplesmente, arrancar uma de suas páginas, com a intenção de sumir com seus registros. Eles lá permanecerão, eternamente, ou enquanto o alcance de nossa memória conseguir lá chegar. Tem, também, coisas que fizemos questão de esquecer propositalmente, em páginas que nunca mais abrimos. E para que lembrar mesmo?

Prefiro ficar com as memórias das fotos, e com as amizades que permanecem, apesar de tempo e distância que, grande parte das vezes, insiste em atrapalhar. Mesmo tendo algumas fotos extraviadas e páginas que sumiram no caminho, mesmo antes da última página, serão essas coisas que terão valido a pena. É essa a redação que realmente devemos redigir. Essa é a história que devemos contar. O resto, será apenas lenda ou uma página esquecida.

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