terça-feira, 18 de agosto de 2015

Árbitros, Erros Humanos e Mudanças no Futebol

Há alguns anos discutimos nos campeonatos sul-americanos, e ainda mais, nos campeonatos nacionais, o quanto as arbitragens falham em lances capitais, alterando resultados de jogos e campeonatos. Recorrentemente, rodada após rodada, os especialistas de arbitragem das emissoras tem muito trabalho a fazer, explicando-nos sobre o toque de mão não marcado, ou o impedimento de meio corpo assinalado, tirando nosso foco para o que essencialmente seria o futebol.

 

A explicação não é tão superficial como alguns insistem em tentar fazer parecer. Dentre estas superficialidades disseminadas por alguns retrógrados está a tão citada: "Errou porque é ser humano, e seres humanos erram, certo?". Sim, humanos erram, e isso não vai mudar, por mais treino e dedicação que tenhamos em nossa atividade, somos passíveis de erro sim, o que nos leva ao primeira questão: por que razão não nos utilizamos da tecnologia para diminuir os riscos de que os erros humanos influenciem os resultados das partidas?

 

Se ouve muito falar em "chip" na bola, uso de tecnologias e o 'escambau', mas de maneira prática, nada mudou nos últimos anos. Até 'inventaram' o tal 5º arbitro que pouco - ou nada - fazia. E das poucas vezes que intervinham nas partidas, erravam, tornando sua utilização mais absurda e inócua. Colocaram apenas mais um humano para errar juntos aos demais, o que não faz nenhum sentido.

 

Não estou propondo que a cada lance marcado no campo haja consulta a monitores ou outros dispositivos extracampo para que, só então, se valide uma jogada. Isso tornaria o futebol chato e sem dinamismo. Meu modelo ideal passa pelo modelo adotado da NFL (da qual sou fã, acho muito bom e deveria ser copiado em vários aspectos), onde cada técnico pode desafiar a marcação do campo duas vezes. Caso seu recurso seja acatado, a marcação do campo é alterada, do contrário, ele perde direito a um de seus pedidos de tempo.

 

Não precisamos copiar fielmente o modelo, mas poderiam usar o exemplo para desenvolver algo parecido, ou com o mesmo conceito, dando aos árbitros a chance de reavaliar uma marcação sua utilizando-se de outros recursos. Isso tiraria um pouco de seus ombros toda a responsabilidade pelas decisões, permitindo que ele falhe eventualmente, pois ainda haveria uma forma de corrigir a falha em tempo hábil.

 

Tendo a tecnologia a nosso favor, partimos para um outro aspecto que mais atrapalha que ajuda: a subjetividade de algumas questões do futebol. Diferentemente do que afirma um certo comentarista de arbitragem, a regra não é clara! Pelo contrário, muitos aspectos são subjetivos e, por isso, estão na cabeça de cada arbitro. Se para o árbitro "A", um carrinho frontal é perigoso e, portanto, passível de cartão, para o arbitro "B" o lance passa batido. Isso abre um precedente muito perigoso, afinal, não tendo critérios uniformes, os jogadores e a torcida sentem-se no direito de reclamar quando em um jogo um juiz marca mão de seu zagueiro em um carrinho dentro da área, e no próximo jogo, um lance idêntico não é marcado a seu favor. Isso é intransigente e só confunde atletas e espectadores. Uniformização de critérios e regras mais claras e menos interpretativas só garantiria que parássemos de discutir "mão na bola ou bola na mão" e focássemos no que realmente importa.

 

Mas regras claras e tecnologia não são o suficiente se o árbitro, durante a semana, precisa trabalhar no seu "emprego formal", tendo que prender bandidos, atender os clientes, ou dar aulas, para ficarmos apenas em alguns exemplos. A função de "árbitro de futebol" é apenas um bico. Duas ou três vezes na semana, mediante pagamento, eles vão apitar algumas partidas, tal como é feito na várzea. Mesmo que eles não vivam exclusivamente do futebol, são cobrados como se o fossem.

 

A profissionalização dos árbitros, através do reconhecimento da profissão e da constituição de empresas exclusivas de arbitragem, apartadas das federações, garantiriam, assim, a segregação de funções e, possivelmente, mais seriedade, uma vez que é de conhecimento público que Federações, Confederações, e até mesmo a FIFA, não são exemplos de honestidade e retidão. Através deste modelo, os árbitros passariam a ser funcionários destas empresas, tendo direitos e obrigações como as demais pessoas ligadas ao futebol. Viveriam de futebol, recebendo acompanhamento de treinadores, nutricionistas e psicólogos. Receberiam feedbacks sistemáticos ao final de cada rodada, para correção imediata de eventuais falhas.

 

Desta forma, diante deste cenário proposto, daí sim teríamos legitimidade suficiente para cobrar dos árbitros e auxiliares um melhor preparo e apontar seus erros. Do contrário, é apenas “mais do mesmo”, ou seja, uma imensidão de inocuidade e incompetência.

 

Essas são apenas algumas ações que poderiam ser adotadas para a melhoria do cenário atual, e só estão focadas nos árbitros. Eu poderia discorrer sobre mais um sem-número de outras medidas que precisariam ser tomadas para que o futebol brasileiro atinja um nível aceitável, como a profissionalização dos dirigentes e dos clubes de futebol, a obrigatoriedade de que se formem cidadãos nas bases, e não apenas jogadores semianalfabetos, a transparência dos contratos de televisão com os clubes e a diminuição das discrepâncias que ocorrem na distribuição das verbas, mas estes tópicos são assuntos para outros textos específicos.

 

O que não dá mais para suportar é a inércia. Os caciques do futebol nacional e, principalmente, os clubes, precisam começar a repensar de forma séria algumas questões, sob pena de o futebol perca de vez a credibilidade, afastando os torcedores que, assim como eu, só querem que sua paixão seja levada um pouco mais a sério por aqueles que mandam no espetáculo.

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