quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Porto Alegre "de La Mancha"

Desde que me conheço por gente, ouço falar da ânsia dos porto alegrenses em derrubar o muro da Mauá, para que ocorra a integração entre a população e o lago Guaíba. Esse discurso sempre me pareceu coerente, afinal de contas, é uma estupidez manter toda aquela orla abandonada e isolada da cidade. Um ambiente estéril e inútil, sendo coberto por mato e embarcações abandonadas.
Há alguns anos, a discussão ganhou corpo e, finalmente, foi realizada uma licitação, onde a iniciativa privada ficaria responsável pela elaboração do projeto de revitalização e por sua execução. Em contrapartida, teria exclusividade pela exploração de algumas partes da área nova, afinal de contas, empresas privadas visam ao lucro.
Para minha surpresa - e estupor -, há um grupo de "intelectuais" gaúchos que se opõem veementemente à obra, pois, segundo eles, dentre diversos argumentos bastantes questionáveis, colocar torres comerciais e uma espécie de "passeio" com lojas e praça de alimentação, na beira do lago, não caracterizaria a integração da cidade com a orla. Em suma, tiraria a vista do lago e não o devolveria à população.
Ao ler e ouvir este tipo de coisa, sinto um misto de vergonha e indignação do o povo gaúcho. Mais especificamente, os porto-alegrenses e sua classe pseudo-intelectualóides que, em sua massiva maioria, são provenientes de famílias abastadas, estudantes de colégios privados, e que tiraram a vaga de um estudante da rede pública na UFRGS.
E por terem tido a oportunidade de estudar na "federal", adquiriram essa "consciência social" deturpada, bizarra e falaciosa. Nenhum destes bastiões do povo sequer chegou perto de uma vila da cidade, tampouco andou mais de uma hora de ônibus até à Restinga. Andaram de T9 com ar-condicionado e acham que entendem sobre o que o povo precisa. Nunca lhes foi dito que ler Karl Marx não os torna, automaticamente,  entendedores de questões sociais profundas. Ler Marx, fora de contexto e sem entender as nuances é só mais um sinal desta empáfia, peculiar destes ditos intelectuais.
Parem de tentar representar "o povo". Vocês representam esses "esquerdistas de Iphone". Uma classe que é contra o progresso. Se querem atraso, amigos, se mudem para Cuba, então. Parem de achar que são as "cabeças-pensantes" do Estado pois, por culpa pessoas como vocês, é que somos um dos estados da federação com maior déficit nas contas públicas. Por caras como vocês é que nossas empresas foram para a Bahia nos anos 1990, e vão para Santa Catarina e Paraná nos dias de hoje.
Vocês pregam pensamentos retrógrados e ultrapassados, baseados em argumentos fugazes, sabe-se lá com qual interesse. Ou até sabemos, afinal, o que não é feito pelo governante do meu partido não presta, não é mesmo? Desconstruir é muito mais fácil que construir. E dá-lhe "Lei Rouanet" para acalmar os ânimos de algumas classes neste país...
Porto Alegre, que já foi um caldeirão efervescente de novidades e avanços em diversos aspectos, tal como os "corredores" de ônibus*, para nos atermos a apenas um exemplo, atualmente, se tornou uma espécie de Dom Quixote de La Mancha. Um herói que obteve suas glórias no passado, mas que depois de tantas batalhas, enlouqueceu, e acabou por lutar contra moinhos de vento, pois sua visão romantizada do passado, fazia-o confundi-los com gigantes terríveis. Essa é a síntese de Porto Alegre. Somos um Dom Quixote velho e cansado, que luta contra aquilo que não se deve lutar, por causa de um suposto passado glorioso.

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* E antes que algum petista deliberadamente apareça reclamando a autoria dos corredores de ônibus, informo que o primeiro foi inaugurado em 1979, pelo então prefeito Guilherme Vilela, que hoje é filiado ao PP. Portanto, não tentem deturpar a história.

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