sexta-feira, 26 de agosto de 2016

A "novidade" da violência

O clima em Porto Alegre é de guerra, e não é de hoje. Como já abordei anteriormente em outro texto do blog, segurança, antes de mais nada, é uma sensação. E em Porto Alegre, atualmente, é impossível sentir-se seguro.

O latrocínio da mãe buscando o filho em uma escola chocou a sociedade gaúcha, assim como a morte da médica, no dia dos pais, em uma sinaleira, já havia causado uma enorme comoção. Ao que tudo indica, o assassinato da mulher na porta de um colégio particular foi a gota da água para a população, que agora exige medidas enérgicas dos governantes. A mídia, desde ontem, está publicando editoriais e teorias sobre o avanço da violência no Rio Grande do Sul.

Porém, não posso me livrar de uma reflexão: há cerca de duas noites, três mulheres foram executadas em Alvorada. Por que não vi qualquer linha dos formadores de opinião nos jornais, ou indignação da população gaúcha em decorrência disso?

Não ouvi ninguém bradando acerca do quanto a violência preocupa as pessoas, quando mulheres pobres são mortas em uma vila. Isso é longe da "sociedade de bem", pagadora de impostos. Essas pessoas só enxergam a violência quando ela "desce para o asfalto".

Não quero fazer um concurso de qual vida vale mais. Na minha visão, todas as vidas deveriam ter o mesmo valor. Mas não é o que ocorre. A opinião pública só enxergou a violência quando ela foi bater na porta da classe média/alta dos gaúchos. Há anos pessoas são mortas nas periferias. Nas vilas, desde sempre, as pessoas vêm sendo assaltadas, sendo expulsas de casa por traficantes, mas nada disso fez os gaúchos se sentirem inseguros.

A violência, quando restrita às periferias, é invisível, tal como sujeira debaixo do tapete: todo mundo sabe que está lá, mas se não estamos vendo, ok. O problema todo é que, agora, o tapete foi retirado, e o vento está espalhando a sujeira pela casa toda.

Os anos de abandono da população das periferias, entregues às suas próprias leis impostas por criminosos, finalmente extrapolou a "fronteira". A violência saiu da vila, e está com sangue nos olhos, pelos anos de exclusão e invisibilidade com que foi tratada.

A violência ganhou o asfalto, e a sociedade gaúcha não estava preparada para isso.

2 comentários:

Luigisp disse...

Meu caro amigo,
A mesma imprensa que cobriu as mortes da médica e da mãe que foi buscar o filho na classe média foi a mesma que retratou a morte das 3 mulheres, que conforme investigação da polícia civil, eram de porto alegre, sendo que uma delas era a mulher de um traficante e por não queré mais o mesmo como esposo, foi brutalmente assassinada juntos de outras duas amigas , sendo os corpos desovados na nossa querida Alvorada. Acredito que o problema não é que a criminalidade tenha chegado ao asfalto e sim que o asfalto (classe media/alta) tem maior organização e conseguiu se juntar de forma mais eficiente que a vila, onde a grande maioria das pessoas ficam reclamando entre si, porém sem se organizar para algo maior....
Mas concordo que a situação é crítica à muito tempo, e não é de hoje que a criminalidade tomou conta das nossas cidades.
Abraço
Luigi

Luigisp disse...
Este comentário foi removido pelo autor.