terça-feira, 30 de maio de 2017

Não falem da minha mãe!

Me recordo com muita afeição do meu tempo de escola. Me lembro com ternura das brincadeiras, travessuras, amores e problemas daqueles tempos. Ah, como era bom ser criança!

Trago na memória que, por conta de nossa pouca idade e inexperiência, qualquer mínima coisa poderia se tornar um enorme problema, algo de difícil solução. Porém, se hoje olharmos com atenção o passado, teremos a absoluta convicção de que grande parte das coisas nem eram realmente problemas. Eram apenas questões bobas, que serviram apenas para tumultuar nosso ambiente infantil.

Mas de todas as memórias da época, o mais estranho é recordar que um dos principais motivos para o início de uma briga entre garotos em idade escolar é o famoso "falou da tua mãe, bah!". Xingar a mãe de outrem, ou até mesmo citá-la, poderia ser o causador de enormes batalhas campais entre pirralhos menores que metro e meio. Falar mal de uma mãe de alguém era crime imperdoável e imprescritível. Lembro até que existiam aqueles mais extremistas que, no auge da discussão pré-pancadaria, bradavam "bate na minha cara, mas não fala da minha mãe!". Coisa de criança, porém entendíamos que o ápice de fazer justiça na infância era “sair” no soco com um colega por este ter maculado o nome de nossa progenitora.

Mãe é a coisa mais sagrada para uma criança, e nada mudará esse fato. E não há qualquer absurdo nesta afirmação, afinal de contas, ela é a primeira mulher de nossas vidas. Nos protege, alimenta, cuida, dá carinho. Ninguém está apto a enxovalhar seu santo nome. E assim se davam brigas e mais brigas na escola.

Mas qual razão para pensar nisso hoje? Passados quase vinte anos que não frequento as salas de aula da escola?

No início desta semana, ao sair para o trabalho, minha mãe foi abordada por dois marginais. Eles anunciaram o assalto e pediram sua bolsa. Ela (de forma errada, diga-se), se negou a entregar seus pertences e, por isso, uma mulher de 56 anos, foi atirada ao chão, sem a menor cerimônia, tendo perdido sua bolsa, celular, e mais alguns objetos de menor valor e, até, sua dignidade.

Ofenderam a minha mãe. Sem o menor pudor, tal como no tempo de colégio. Porém, não tentaram denegrir sua imagem com palavras de baixo calão e mentiras bobas de criança. A agrediram, com uma violência que só aqueles que não tem mãe são capazes de utilizar. Não que tenham nascido de alguma chocadeira, ou coisa do gênero. Porém, estes elementos, certamente, jamais defenderam suas mães no recreio da escola. E por isso, não sentem qualquer culpa ao "mexer" com a mãe alheia.

O que me doeu mais foi eu não ter tido como defendê-la. Não pude encarar os covardes, tampouco cuspir no chão, em tom de ameaça, impondo-me contra tamanha violência. Quem defende minha mãe? Quem defenderá outras mães, pais, irmãs e irmãos? Na época de escola, teria me engalfinhado com os dois e, após uma troca de sopapos, iríamos todos à Diretoria assinar uma ocorrência. Talvez, nossos pais fossem chamados, e eu ficaria de castigo depois.

Mas, e hoje? O que faremos quando ofenderem nossas mães? A quem recorremos? Segurança Pública? Polícia? Digo sem medo de errar: ninguém! Todos fazemos parte deste sistema corrompido e falido, em um Estado que só pensa em se auto beneficiar. E que se danem as mães! O Estado, definitivamente, não tem mãe, mas passa o tempo todo rindo e gozando da cara das nossas mães. E das nossas caras, também.

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