segunda-feira, 5 de junho de 2017

Não sois máquina

Com o tempo, aprendi a observar o que me cerca. Ouvir é muito mais importante que falar, em grande parte dos momentos. E, por ser um observador, tenho a percepção que a maioria das pessoas não sabe ouvir. Querem impor seus argumentos, suas lógicas e seus problemas, como se somente elas carregassem a resposta a todos os problemas e mazelas da humanidade.

Nós, humanos, temos essa estranha necessidade primordial de sermos o centro das atenções. Uma pessoa, ao compartilhar um problema, por exemplo, não tem a intenção de o dividir para achar uma solução. Quer, sim, te mostrar como ela sofre mais que o resto da população, e como seus problemas são enormes, muito maiores que teu entendimento sobre eles.

O mesmo vale para as "soluções mágicas". Experimente contar um problema de difícil resolução para você, e receberás uma resposta carregada de desdém e indiferença, pois, no final das contas, a empatia é cada vez mais ignorada.

Passamos por um processo hediondo de desumanização, onde ser percebido como uma máquina é motivo de orgulho para alguns. Porém, como disse Chaplin, em O Grande Ditador, "Não sois máquina! Não sois gado! Homem é que sois!". Por que buscamos essa superficialidade nas relações?

Soube ontem que grupos de extrema-direita europeus tentam sabotar barcos de regate de imigrantes que estão à deriva. Matamos pessoas por ideologia, ou para defender algo que julgamos ser nosso por convenção. É o fim.

Desenvolvemos tecnologias novas. Fomos à Lua, e queremos ir a Marte. Mas não conseguimos dar a mão àqueles que padecem. Não nos comovemos com aqueles que choram por estarem verdadeiramente sozinhos. Não nos compadecemos por aqueles que não tem mais nada, simplesmente porque perdemos a capacidade de sermos humanos. E isso dói demais.

Desejamos resolver os milhares de mistérios do universo, mas não conseguimos, nem ao menos, sermos solidários uns com os outros. Tornamos as vidas de nossos iguais em banalidade, onde um a mais, ou um a menos, não nos fazem diferença. Porém, toda a vida faz diferença! Talvez não para você, que já deixou de ser humano. Mas acredite: haverá uma pessoa para quem uma lágrima rolando significará a ausência daquele com quem você não se importa.

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