quarta-feira, 28 de junho de 2017

Sentido da Morte (Contém Spoilers)

Sou um obcecado pela morte. Tenho verdadeiro fascínio sobre o tema. Fascínio este, despertado, provavelmente, pelo medo absurdo que tenho de morrer. Basta eu sentir uma dorzinha, ou um desconforto, que já imagino, no mínimo, dez doenças que podem me matar de todas as formas possíveis.

Esse antagonismo de sentimentos que vivem se chocando dentro de mim, inúmeras vezes, desde muito tempo. Tenho medo de morrer, mas quero saber mais e mais sobre isso. Sou tão obcecado que, certa vez, respondi a uma ex-namorada, quando ela me questionou qual era meu objetivo de vida: "Saber o sentido da morte!'.

Macabro, eu sei. Mas posso explicar: todos buscam o "sentido da vida". Porém, creio que tal significado habite em cada um de nós. É uma questão pessoal, intransferível e mutável, ao longo da vida. Já a morte, essa não tem sentido diverso. É o final, o desfecho de nossa passagem neste mundo. O fim da linha. É o que há de mais líquido e certo, e também, a coisa que nunca fomos capazes de entender.

A predominância das religiões existentes foi criada a partir de aspectos que não éramos capazes de explicar. Luzes que cortam o céu, hoje chamadas de raios, era algo inexplicável aos nossos antepassados. Não havia ciência, então, como explicar? Cria-se a mitologia de um ser superior que, quando sente raiva, descarrega sua ira sobre o planeta através de suas lanças de luz. Lanças estas, capazes de queimar árvores, matar animais, e matar a nós mesmos, se for o caso. Era o jeito mais simples de atribuir sentido as coisas. Foi o que ocorreu com a morte.

A pessoa simplesmente deixava de existir, quando a velhice chegava (fato esse que ocorria por volta dos 22 anos). Não sabíamos o que era aquilo, tampouco explicar tal fenômeno. E isso, acabou por nos causar muito medo. Moral da história? Temos um sem-fim de religiões, seitas e grupos que se unem ao entorno de um fim comum: atribuir sentido à morte.

Logo, me parece muito mais sensato e lógico buscar sentido de uma coisa que só deve ter um sentido, do que tentar adivinhar quantos milhões de sentidos que uma vida pode ter. E convenhamos que, apesar de ser apenas uma resposta, é, sem sombra de dúvidas, a maior resposta de todas. É a que faria tudo clarear. Terminaria as guerras, e viveríamos em um mundo mais calmo. Entendem a magnitude disso?

Mas voltando ao foco principal, parte do que pode explicar o sentido da morte, ao meu ver, é como vamos enfrentá-la. Tem um ditado que diz que herói, na verdade, é o covarde que não conseguiu fugir a tempo. Não creio que isso seja absoluta verdade. Embora eu tenha convicção de que fugir da morte não seja ato de covardia, até mesmo pelo ineditismo do fato. Claro, um ineditismo para mim, um ateu praticante. Religiosos podem me contrapor com Lázaro e Jesus, mas não gostaria de entrar nessa seara, pelo menos agora.

Creio que, no final das contas, se em muitas ocasiões é preciso de coragem para superar obstáculos, podemos considerar a morte o maior de todos eles. Por isso, o que define tudo, ao meu ver, é se encaramos isso de frente. Quando o juiz levanta a placa dos acréscimos, aos 45° do segundo tempo, a nossa postura frente ao apito final iminente é o que nos faz ter certeza de que tudo valeu a pena e que vivemos a vida da melhor forma possível.

Tenho muito medo de morrer, mas pretendo alcançar a maturidade e segurança suficientes para que, no dia que ceifador estiver parado ao meu lado, esperando meu derradeiro segundo chegar, eu possa olhar no vazio de seu capuz, e possa dizer: "Me leva então, seu grande filho da puta! Não tenho medo de você!". Entendo quem somos não é formado apenas de como vivemos a vida, e sim, como a deixamos. Precisamos de coragem, apesar do medo. Precisamos encarar de frente aqueles instantes finais, e isso, por fim, será o verdadeiro sentido de nossas vidas.

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