quinta-feira, 11 de julho de 2013

Em algum lugar, não muito longe daqui (Parte V)

Aos poucos, a fisionomia de Ana voltava ao normal, porém ainda sem nenhuma palavra, a medida em que esvaziava o copo de Bourbon. Pedro, também permanecia em silêncio, quase imóvel, sentado em frente de Ana, olhando para algum ponto perdido na parede. Um pouco deste aparente embaraço era por conta da vergonha que estava sentindo de si mesmo, já que tinha sido um covarde ao não dizer a ela tudo que gostaria, naquela noite. Além disso, não queria incorrer no erro de falar qualquer coisa que, eventualmente, poderia desencadear novo abalo e, por consequência, uma nova crise de choro.
Seu estômago, agora, parecia uma bomba pronta para explodir. Amaldiçoou aquele bourbon vagabundo e todo o mal-estar que ele estava lhe causando. Sentia que algo não estava bem em seu sistema digestivo. Primeiro, uma azia muito forte. Depois, a sensação de que as coisas dentro dele estavam tentando arromba-lo para ganhar o mundo.
Pousou uma das mãos sobre a boca, balbuciou algo parecido com um pedido de desculpas e foi correndo para o banheiro. Ali, colocou para fora o bourbon, a fatia de pizza que havia comido na janta e qualquer outra coisa que estava repousando em seu estômago. Sentia sua face fervendo e suas mãos suando, mesmo estando gélidas como o Pólo Sul.
Enquanto vomitava, percebeu que, antes de ser responsabilidade de qualquer coisa que tenha ingerido, aquele mal-estar estava diretamente ligado ao nervosismo que sentia, por tudo que estava acontecendo naquela noite. Primeiro, foi acordado de repente, às duas da manhã e agora, não bastasse, Ana estava ali em sua sala, aos prantos e ele nem ao menos imaginava a razão. O que faltava acontecer para completar o show de bizarrices?
Ao sentir que não havia nada mais para expurgar de seu corpo, foi até a pia, abriu a torneira, deixando a água corrente escorrer por suas mãos. Lavou demoradamente o rosto, depois a boca com um rápido gargarejo, ambos os gestos com a clara finalidade de tentar exorcizar os monstros que ainda habitavam em seu interior.
Ao perceber que a situação estava normalizada, olhou a sua volta para verificar se tudo estava em ordem, respirou profundamente, deixando o tórax expandir-se e contrair-se, abriu a porta do banheiro, voltando à sala novamente. Porém, para seu completo espanto, viu apenas o copo vazio sobre a banqueta e sua poltrona vazia.
(Continua...)

Nenhum comentário: