sábado, 20 de julho de 2013

Em algum lugar, não muito longe daqui (Parte VII)

Ao vê-la dormindo, tão serena e linda, abriu um sorriso débil, o qual não pode evitar. Há quanto tempo ela não dormia ao seu lado? Não conseguia recordar-se, até porque, na verdade, ela quase nunca dormia com ele. Normalmente, após deleitarem-se com o prazer carnal, enquanto ele permanecia extasiado na cama, desmaiando em seguida, ela levantava-se, tomava um demorado banho, beijava-lhe a face e, na calada da noite, partia.
No início, quando ela ainda não frequentava sua casa, as noites do casal – e alguns dias – resumiam-se a quartos de motel. Naquele tempo, Ana não demonstrava tanta urgência para se livrar dele. Pedro tinha a impressão de que, ambientes impessoais como são os dos motéis, deixavam-na menos receosa, mais liberta.
Quando ele deixou a pensão para moços onde morava e finalmente alugou um pequeno apartamento no Centro, pensou que sua relação com Ana ficaria ainda melhor, tendo em vista que, estando em sua casa, a liberdade para os dois aumentaria.
Não tinha visto ela aquela semana toda e, portanto, não havia lhe contado a novidade. Mudou-se em um sábado a tarde, com a ajuda de Chico, seu amigo da pensão. Como não tinha quase nada para levar, a não ser algumas peças de roupas, seu ventilador e seus CDs, a coisa toda foi muito rápida.
Ao chegar a seu apartamento novo, deixaram as coisas pelo chão, desceram ao mercadinho que ficava na esquina da quadra e compraram algumas cervejas. Passaram o restante do dia, bebendo, rindo e falando bobagens diversas. Chico, apesar de ser uma cara meio estranho e estudar filosofia, falava coisas engraçadas quase sempre e, por isso, acabava se tornando uma companhia agradável.
Perto das 19h, quando Chico foi embora e Pedro se viu solitário, a ficha começou a cair: estava sozinho a partir de agora. Sentiu-se extremamente triste. Não tinha nada nesta vida, nenhum bem. Tinha roupas, mas não tinha onde guarda-las. Seus CDs careciam de um aparelho de som para tocar. Nem mesmo um colchão possuía. Como poderia convidar Ana para ama-lo naquela pocilga?
Diante destes pensamentos, começou a chorar copiosamente,  sentando no chão até que, cansado e bêbado, dormiu sobre o único cobertor que tinha.

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