quinta-feira, 4 de julho de 2013

Em algum lugar, não muito longe daqui (Parte II)

Ele escutou, lá no fundo de seus pensamentos, o som de um interfone que tocava incessantemente. Um pouco zonzo, conseguiu perceber que tratava-se de seu próprio interfone. Em um movimento rápido saltou da cama, chegando com alguma dificuldade até a sala escura, porém não sem antes chutar e tropeçar em todos os itens que estavam em seu caminho.
Quando finalmente chegou ao aparelho, com a voz um pouco rouca, exclamou:
- Pronto? Em resposta, apenas silêncio.
- Quem é??? Nada.
Possesso, tanto pelo avançado da hora - já passavam das duas da manhã, naquele momento -, como por pensar que tratava-se de algum tipo de galhofa de um desocupado, que apertava os botões de interfones alheios, zombando da cara daqueles que só queriam dormir em paz, começou a proferir um sem-número de impropérios, os quais logo foram interrompidos quando, finalmente, ouviu o som daquela voz:
- Pedro, sou eu. Abre, por favor?
Prontamente reconheceu aquela voz. Sabia de quem se tratava. A única voz capaz de silenciá-lo e trazê-lo de volta, definitivamente, dos braços de Morfeu.
Imediatamente destravou o portão de ferro do edifício e aguardou, até que, numa fração de segundos, escutou:
- Abriu!
Sentiu o coração disparar no peito e a garganta fechar. "- O que ela queria, ainda mais a essa hora?". Não tinha essa resposta e, muito menos, conseguia discernir sobre isso naquele momento.
Se viu obrigado a pensar rápido. Acendeu a luz e, de um maneira impressionantemente rápida, atirou na pia a louça que repousava tristemente há alguns dia sobre a mesinha. Também recolheu as garrafas de cerveja e as demais embalagens que habitavam ao redor da única poltrona que compunha aquele cenário bucólico e vazio. Sua última medida desesperada foi apanhar uma garrafa de refrigerante que já fazia aniversário em sua geladeira, abrí-la e deixar com que parte do líquido nela contido escorregasse para dentro de sua boca, viabilizando assim, um rápido bochecho e um gargarejo barulhento pois, afinal de contas, pensou, àquela hora deveria estar com um hálito dos infernos.
Ao final desta cena, que durou não mais que um minuto, sofreu um baque. Era o som de batidas em sua porta. Ao perceber sua presença tão próxima, titubeou por um segundo ou dois, até que, finalmente, girou a chave, baixou o trinco da porta e começou a abrí-la.
(Continua...)

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