segunda-feira, 8 de julho de 2013

Em algum lugar, não muito longe daqui (Parte IV)

Ao retornar para a sala, viu que ela estava com os cotovelos apoiados sobre os joelhos, olhando para o chão. Aos seus pés, uma pequena poça se formava, fruto do acúmulo de lágrimas que brotavam de seus olhos, sem qualquer explicação aparente, mas em quantidade abundante.
"- O que foi?" Perguntou ele, já com uma voz menos dura do que há poucos minutos.
"- Estou tão cansada disso tudo! Você não sabe o quão difícil é viver desta forma...", disse ela, entre soluços.
Pedro puxou uma pequena banqueta de três pernas que ficava num canto da sala, colocou o copo com bourbon sobre as mãos delas e sentou-se, atônito, em sua frente. Seu plano de lhe dizer tudo que pensava, escorreu para o ralo quando a viu chorando daquela forma. Não podia ver qualquer mulher chorando, pois lhe agoniava profundamente. Começava a chorar junto, inclusive.
Agora, ver a mulher que ama aos prantos em sua sala, cortou-lhe a alma como ferro quente. Tinha a sensação de havia uma espada encravada em seu peito, torcendo-lhe as víceras e ferindo mortalmente seu coração. Não sabia o que fazer.
Sua real vontade era envolvê-la em seus braços e protegê-la de tudo. Deste maldito mundo que lhe fez mal. De todos aqueles que não queriam o amor, que invejavam os felizes casais que andavam de mãos dadas, ao pôr-do-sol do Gasômetro.
Foi interrompido em seus devaneios quando ela lhe pediu um pedaço de papel higiênico. Tinha a intenção de secar um pouco o rosto e limpar parte da maquiagem que, a essa altura, já havia escorrido por suas maçãs do rosto e suas bobechas.
Levantou-se rápido e se dirigiu ao cúbiculo que chamava de banheiro. Apanhou um generoso pedaço que se desprendeu do rolo quando ele puxou e, na mesma desabalada carreira, retornou à poltrona, estendendo-lhe o emaranhado de papel que ele havia formado na mão.
Ela agradeceu, pegou todo aquele papel higiênico e começou a separa-lo, metodicamente, de maneira a organizar um pouco tudo aquilo.
Logo, o papel já havia sido cortado em quatro ou cinco pedaços menores, simetricamente dobrados, que foram se esgotando, um a um, pois suas lágrimas não cessavam. Pedro, incrédulo, apenas observava, novamente sentado no pequeno banco posicionado em frente a sua poltrona.
(Continua...)

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