quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Em algum lugar, não muito longe daqui... (Parte XI)

O olhar de Ana parecia saído de um velho filme em preto e branco dos anos 1930. Seus olhos grandes, em tom castanho-acinzentados, contrastavam lindamente com sua pele alva, tal qual a pintura delicada de uma boneca de porcelana, além daqueles cabelos avermelhados, presos em um desleixado rabo-de-cavalo, que acentuavam ainda mais seus traços ora infantis, ora sensuais, de mulher adulta. “- É amigo do Chico?”, perguntou. “- Sim, somos colegas de quarto na pensão.”, respondeu Pedro. “- Esse Chico é um doido! Vai te enlouquecer também, com essas coisas de comunismo!”, disse-lhe Ana, com aquela voz suave e gostosa de ouvir. “- Não te preocupa com isso. Quando ele começa a "viajar" demais nessas coisas eu saio de perto. Sou do interior, não tenho muita paciência com essas utopias políticas dele não...”, disse Pedro soltando uma breve risada no fim da frase. “- Então, vamos dar uma volta e sair de perto destes ‘comunas’? Daí tu podes me contar sobre o lugar lindo em que você estava quando cheguei.”, falou Ana, alegremente. “- Cla... claro!”, proferiu Pedro, com certo ar de incredulidade, pois não acreditava que aquela mulher linda o estava convidando para passear. Sua mente começou a maquinar que tudo aquilo, na verdade, tratava-se de alguma piada do Chico, um trote de mau gosto. Entretanto, ao olhar para onde ele estava, percebeu que estava ainda mais compenetrado em suas discussões políticas junto ao pessoal do movimento estudantil. Ele não faria tal maldade, pelo menos, não naquele momento. Mas e, se por acaso, fosse ela quem estivesse brincando? Seu jeito quieto de rapaz interiorano poderia ter despertado nela um espírito zombador, capaz de fazer piadas maldosas em plena noite de natal, com aquele “pseudo-capiau”? Porém, todos estes pensamentos sumiram, como num passe de mágica, no exato momento em que ela o puxou pela mão e o levou através da Avenida República. (continua...)

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