quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Em algum lugar, não muito longe daqui... (Parte XII)

Pedro sentia-se intimidado pela forma como Ana comportava-se. Como podia carregar toda aquela alegria e petulância, que pareciam transbordar de sua presença?
Caminharam até a esquina da Avenida Lima e Silva, onde ela perguntou-lhe se estava afim de uma cerveja. Assim que ouviu a resposta positiva de Pedro, desapareceu dentro do bar localizado no local. O bar estava lotado, repleto de mesas na calçada, com pessoas barulhentas falando alto e rindo, num cenário que lhe soava artificial, afinal, não acreditava que todos ali pudessem estar verdadeiramente alegres. Porque essas pessoas não estavam com suas famílias? Por acaso não tinham para onde voltar? Não sentiam saudades de seus pais?
Após alguns minutos, Ana retornou com duas cervejas, verdadeiramente geladas, entregando-lhe uma delas em seguida. Atravessaram a rua, pois na esquina em frente, não haviam muitas pessoas aglomeradas e, por isso, o barulho era menor.
Postaram-se debaixo da marquise de um edifício próximo. Pedro logo notou que Ana lhe lançava um olhar fixo e fulminante, como se estivesse tentando adivinhar seus pensamentos, ou ler sua alma.
“- Que foi?” questionou Pedro, um pouco temeroso.
“- Quem é Pedro?” inquiriu-lhe Ana, com um leve sorriso malicioso na face.
“- Como assim? Sou o Pedro, ué!” retorquiu ele, com uma certa inquietação tomando conta de seu semblante, fazendo com que suas bochechas corassem.
“- Não, bobo! Quero saber mais sobre você! Quem é você, o que faz da vida, de onde vem... entendeu? O que te faz estar na Cidade Baixa, as duas da manhã de uma noite de natal, falando com uma desconhecida?”. 
Após superar o pequeno mal entendido, Pedro desatou a falar sobre sua vida, sua família que deixou no interior quando veio à Capital atrás de seus sonhos, sua “ceia” de natal com Chico e mais todo o tipo de trivialidades, comuns àqueles que estão se conhecendo. Ao notar que Ana não perdia o interesse à medida que a conversa avançava, sentiu-se estimulado a falar mais e mais.
Depois de algum tempo, percebendo que o diálogo com Ana havia se transformado num monólogo, sentiu-se constrangido, pois lembrou-se das velhas “matraqueiras” de sua cidade, sempre sentadas nas varandas de suas casinhas, tricotando, tomando chimarrão e falando pelos cotovelos das vidas alheias. Sempre sabiam tudo sobre todos da cidade. Tinha a impressão de que se perguntasse a elas sobre a rotina exata de qualquer morador, elas prontamente teriam o relatório completo para repassar aos ouvidos dispostos a ouvi-las.
“- Acho que estou te chateando com essa minha falação toda. Saiba que, normalmente, não sou tão falante assim...”.
“Não, Pedro, tudo bem! Pode continuar, não está me chateando de maneira alguma!” disse Ana, parecendo sincera.
“- Sério, Ana. Chega de falarmos de mim. Minha vidinha sem graça não vale todo esse tempo perdido! Agora, quero saber mais sobre você! Quem é Ana?” disse ele junto com uma risadinha, retomando a pergunta que Ana lhe fizera no início do diálogo entre os dois.
Quase imediatamente, Ana fechou o semblante, mantendo seus olhos sobre Pedro. Fez uma cara de quem estava pensando no que poderia dizer, deixando transparecer um franzir de preocupação em sua testa. Após esse breve instante, que soava similar a uma “pausa dramática”, usada no teatro momentos antes de uma grande revelação, disse com voz grave e sussurrada:
“- Pedro, se eu te contar realmente quem é Ana e tudo sobre ela, serei obrigada a te matar...”.
(Continua...)

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