quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Em algum lugar, não muito longe daqui... (Parte XVIII)

Pedro acordou com uma tremenda dor de cabeça, daquelas em que o sujeito sente um enorme desejo de pular do mais alto dos edifícios, porém, apesar disto, sentia-se feliz como nunca, pois tivera uma noite maravilhosa, como nunca antes tivera em toda sua vida.
Em contrapartida, também sentia uma profunda angustia ao lembrar que cometera um dos maiores erros de sua vida: não pegar o número do telefone de Ana.
Passou algum tempo lá deitado, olhando para o teto, com um dos braços apoiando a cabeça, relembrando tudo que havia vivido há poucas horas. As memórias ressurgiam em sua mente, pouco a pouco e eram tão reais. A sensação do toque da pele de Ana na sua, seus beijos e carícias, permaneciam intactas em sua derme.
Deu um longo suspiro ao constatar que havia dois fios de cabelo, longos e vermelhos, repousando sobre o travesseiro. As únicas testemunhas oculares daquela noite, que ficaria eternamente marcada como a noite em que Pedro possuiu e amou Ana.
Nos lençóis, ainda restavam resquícios de seu perfume. Um aroma que lhe fazia lembrar canela e flores. Era um perfume doce e cítrico ao mesmo tempo. Aquele era o melhor perfume que podia existir em todo o planeta, pois era o perfume dela.
Ao olhar para o outro lado do pequeno quarto, observou que Chico estava deitado em sua cama, de barriga para baixo, ainda de roupa e tênis, porém, com uma das pernas esticadas para fora. Podia sentir o hálito de álcool que ele exalava durante a respiração, mesmo estando relativamente longe. Pensou um pouco, entretanto, não conseguiu lembrar se viu a hora em que Chico chegou.
Sentiu vontade de acorda-lo, imediatamente, para lhe fazer algumas perguntas sobre Ana. “- De onde ela era? Tens seu número de telefone? De onde a conhece?”. Essas questões martelavam no fundo de sua cabeça. Maldito Chico! Bêbado infeliz! Por que não acordava logo? Ele não sabia que Pedro estava perdendo minutos valiosos, em que já poderia estar falando com ela?
Apesar da angustia, preferiu não acorda-lo, pois sabia que o humor de Chico ao acordar, ainda mais de ressaca, era comparável ao azedume de um limão campeiro. Era provável que, se tentasse acorda-lo, seria mandado, ipsis litteris à "puta que o pariu". Preferiu descer para sevar um chimarrão, no intuito de esperar até que seu companheiro de quarto despertasse, além de poder ficar mais tempo pensando em Ana e em seus cabelos vermelhos, sua tez branca, como uma escultura de gesso esculpida na Grécia antiga.
Após encerrar todos os preparativos para o chimarrão, encheu uma garrafa térmica com água quente, sentou-se nos degraus localizados em frente à pousada e, sob o olhar do monumento de Bento Gonçalves, ficou observando o movimento da rua. Mas, intimamente, o que ele queria na verdade, era cuidar o movimento dos táxis que por ali passavam, com a esperança de que ela estaria em algum deles.
(Continua...)

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