quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Em algum lugar, não muito longe daqui... (Parte XX)

Pedro sentiu algo ruim tomando conta de seu corpo. “- Como assim, sozinho?” pensou. Tinha a impressão que a alma sairia de seu corpo a qualquer momento. Estaria enlouquecendo de vez? Seu olhar para Chico, agora, era de espanto e horror. Seu rosto ganhou contornos dramáticos e sua tez, já branca naturalmente, perdeu completamente qualquer sinal de vida que pudesse ter. Suas mãos começaram a suar e o mal estar, que agora assumia o controle das ações, o fez quedar novamente sobre os degraus da pousada.
Permaneceu em sepulcral silêncio por instantes, em uma tentativa infrutífera, de reorganizar as ideias e dar algum sentido para aquilo que Chico acabara de lhe dizer.
Chico o fitava, com um inadvertido ar de deboche no semblante, porém, já demonstrando certa preocupação àquela altura, pelo estado de choque em que Pedro se encontrava.
“- Pedro, você é um idiota!”, disse Chico por fim, prosseguido de uma gargalhada alta, como se houvessem lhe contado a piada mais engraçada do mundo.
“- Como assim, Chico?” perguntou Pedro, ainda com uma voz lânguida em decorrência do susto.
“- Sim, pateta! É um idiota completo! Não está vendo que estou brincando contigo, cara? Claro que vi que você falava com a Ana ontem à noite. Como você ainda cai nas minhas brincadeiras?” retorquiu, entre risos, à pergunta de Pedro.
“- Poxa, Chico! Que brincadeira mais sem graça! Achei que eu estava ficando maluco!” disse Pedro, com uma risadinha encabulada, que deixava transparecer seu descontentamento por aquela galhofa, mas também, demonstrando certo descontentamento consigo, por novamente ter sido alvo fácil para as chacotas de Chico.
Com as coisas esclarecidas, Pedro acalmou-se e, a partir de então, começou a sabatinar Chico acerca de Ana. De onde vinha, quem era, para onde ia, qual seu telefone, eram apenas algumas das inúmeras questões que permeavam os questionamentos de Pedro.
Porém, para sua decepção, Chico foi reticente sobre o que sabia sobre Ana. Explicou a Pedro que ela, na verdade, era amiga da Bebel, que estudava com ele na Federal e, por conta disso, vez ou outra, aparecia em suas rodas de amigos da Cidade Baixa. Nunca haviam conversado muito, sendo seus diálogos resumidos apenas na troca de meia dúzia de palavras, durante alguma discussão do grupo.
Pedro ficou arrasado. Todas suas esperanças recaiam sobre Chico que, novamente, mostrou-se um verdadeiro pulha e nada pode fazer para ajuda-lo. Como encontraria Ana novamente? Ao menos, descobriu que poderia tentar falar com Bebel, para obter novas informações.
Chico, notando o esmorecimento do amigo, tratou logo de lançar uma nova onda de esperança no ar: “- Cara, fica tranquilo. Falamos com a Bebel mais tarde e, certamente, ela tem mais informações sobre a tal Ana. Se tudo der certo, hoje mesmo tu estará novamente nos braços daquela ruivinha sem graça para enche-la de beijos...”, proferindo esta última frase com franco ar de deboche, enquanto usava as mãos para simular marionetes beijando-se.
Pedro riu da encenação de Chico, porém, sua mente já trabalhava em seu próximo plano. Precisava, o quanto antes, falar com essa Bebel.
(Continua...)

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