sábado, 14 de setembro de 2013

Em algum lugar não muito longe daqui... (Parte XXI)

Pedro esforçava-se para não pensar em Ana durante aquela semana. Porto Alegre já dava sinais claros do esvaziamento que ocorre anualmente nesta época, com as famílias dirigindo-se ao litoral, ou rumando para junto de suas famílias no interior do estado, para as festividades de ano novo.
Tinha passagens compradas para rumar para sua terra natal, pois a saudade de casa estava difícil de suportar. Teria alguns dias para ver sua mãe e seu pai. Sentir aquele cheiro da comida no fogão e da roupa limpa no varal. Das animadas trivialidades de sua irmã, durante a reunião para o jantar. Queria voltar um dia, cuidar dos negócios da família. Casar com alguma moça direita, constituir família e viver o resto de sua vida sossegado.
Ana, ao que parecia, era o extremo oposto do perfil de mulher que almejava em seu plano. Mas não conseguia parar de pensar nela. Não entendia bem o motivo. Talvez, estivesse ainda sob o efeito arrebatador das novidades vividas na noite de natal. Aquela experiência, além de ter sido maravilhosa, foi algo que nunca antes em sua vida havia ocorrido.
Os dias que antecederam sua ida para casa, foram de muito calor, o que tornava a espera ainda mais morosa e irritante. Embarcaria na quinta pela manhã. Na quarta, já tinha combinado com Chico de jogar sinuca ali na Rua Sarmento Leite. Não podia ficar até muito tarde na rua, pois tinha que rumar para a rodoviária bem cedo.
Saiu da livraria e foi direto ao bar. Como era razoavelmente cedo, o local ainda estava vazio. Garçons cuidavam dos detalhes para o bom funcionamento do bar no restante da noite. Como Chico sempre estava atrasado, sentou em uma mesa no fundo, próximo de sua mesa de sinuca preferida. Pedro tinha muitas manias. Sempre elegia, nos locais que frequentava, sua mesa preferida, ou o garçom de sua simpatia.
Estabeleceu-se e chamou Juarez, o garçom que sempre o atendia ali. Juarez era um homem grande, com a tez sempre vermelha e uma linha de suor permanente, que corria em sua testa. Sua camisa branca e suas calças pretas, pareciam ter sido tiradas de uma garrafa, pois sempre estavam amassadas. Ele não era simpático. Atendia sempre através de grunidos e onomatopéias, nem sempre compreendidas pelos clientes. Apesar do esteriótipo, Pedro simpatizava com ele, pois lhe lembrava seu tio Beto.
Pediu uma cerveja, que logo veio. Juarez o serviu e proferiu algo semelhante com um cumprimento. Pedro ficou ali observando o bar ainda vazio, inerte em seus pensamentos, que se distanciavam de seu corpo em velocidade impressionante.
Quando retornou de seu devaneio, percebeu que havia outra mesa ocupada no local. Mesmo que distante, imediatamente distinguiu de quem se tratava.
Não titubeou, levantou-se de seu lugar e dirigiu-se à mesa onde uma bela jovem sorvia um copo de tequila, em um único gole.
(Continua...)

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