terça-feira, 17 de setembro de 2013

Em algum lugar, não muito longe daqui... (Parte XXII)

Aqueles cabelos vermelhos atraíram seus olhos de forma fulminante. Seu coração disparou, dando-lhe a impressão que sairia pela boca a qualquer momento. O que diria a ela quando estivesse em sua frente? Ela lembraria-se dele? Passou a temer, diminuindo o passo. E se ela o tratasse mal?
Havia criado grande expectativa sobre este encontro mas, na verdade, nunca tinha pensado realmente no que dizer. Nem mesmo tinha cogitado a hipótese de que, talvez, ela não compartilhava da mesma vontade que ele apresentava.
Por conta destes pensamentos, parou no meio do caminho. Precisava planejar como aborda-la, bem como, qual seria sua estratégia de fuga, no caso de alguma coisa sair errado durante o reencontro.
Chegaria dizendo um "oi" alegre, bem humorado, demonstrando certa surpresa ao revê-la. Mas poderia parecer trivial demais e, ao que lhe pareceu, Ana não era uma pessoa que poderia se considerar "trivial".
Poderia também chegar dizendo "Hei, lembra de mim? Sou o Pedro, o cara da noite de natal!", mas achou que poderia soar apelativo e excessivamente submisso. Não queria dar a impressão de que desejava encontra-la ansiosamente desde a última vez.
Decepcionado por não encontrar a forma correta de iniciar o diálogo, resignou-se e retornou à sua mesa. Ao sentar, percebeu que Juarez o observava sem esboçar qualquer reação. Possivelmente, achava-o estranho por seu comportamento pouco usual. Tomou o restante da cerveja que repousava em seu copo e, com um pequeno aceno de mão, solicitou outra ao garçom.
Em seu cérebro, um luminoso piscante surgiu imponente em meio a sua confusão mental, dizendo "COVARDE", com letras garrafais vermelhas. Não podia acreditar que, mesmo estando tão perto de Ana, não seria capaz de tomar qualquer ação a fim de aproximar-se.
Juarez trouxe-lhe outra cerveja sem proferir qualquer palavra, reservando-se apenas a anotar o consumo na comanda. Pedro buscou os olhos dele, na intenção de encontrar alguma resposta, ou até mesmo, um ar de compreensão, em uma tentativa infrutífera de obter algum conforto para sua alma inquieta. Obviamente que Juarez nem ao menos percebeu-se de tudo isso, dando-lhe as costas assim que finalizou sua tarefa.
Já na metade da segunda garrafa, a coragem parecia brotar novamente em seu corpo. Tinha decidido que não deixaria aquela oportunidade escapar. Já havia cometido o mesmo erro na noite de natal, mas desta vez, estava determinado a não repetir o mesmo equívoco.
Esvaziou o copo em um único gole. Ergueu-se abruptamente de sua cadeira, cuidando para parecer o mais ereto possível. Iniciou o deslocamento a passos lentos, porém determinados. Diria qualquer coisa quando chegasse e, depois, deixaria a conversa ocorrer naturalmente, sem pressão. Não planejaria mais nada, queria apenas aproximar-se dela, para ver seu rosto novamente.
Quando faltavam apenas uns cinco passos para chegar à sua mesa, percebeu que um rapaz entrou no recinto. Após percorrer com os olhos o ambiente, identificou onde ela se encontrava. Acenou rapidamente a mão e, ao chegar próximo, ela levantou-se, o recepcionado com um abraço forte com um beijo na boca, daqueles que somente amantes de longa data são capazes de dar.
Interrompeu sua aproximação novamente e, sem saber o que fazer, ficou parado em meio ao bar vazio.
(Continua...)

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