quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Em algum lugar, não muito longe daqui... (Parte XXV)

A virada de ano ocorreu sem maiores percalços ou emoções. Pedro ficou em companhia de seus familiares e de seus amigos do interior. Apesar de estar longe de casa há mais de dois anos, sempre que voltava, tinha a impressão de que nunca havia partido.
Sua mãe mantinha a organização de seu quarto impecável. Seus pôsteres das bandas de rock das quais gostava, as medalhas dos torneios de futebol do colégio e, até mesmo, sua coleção de latas de cerveja vazias, que ocupavam toda a parte superior de uma das portas do roupeiro, tudo era mantido com zelo, conservado para um possível retorno seu, que ela não escondia que esperava ansiosamente que ocorresse.
Quando chegou a Porto Alegre, apesar de encontrar um movimento caótico na rodoviária, muito comum em épocas festivas, Pedro já conseguia notar outro fenômeno característico dos meses de verão, ao menos, na capital – o esvaziamento das ruas, devido à ida de parte da população rumo ao litoral. Desde o ônibus que pegou, passando pela Av. Mauá e até mesmo o Parque da Redenção, todos os locais pareciam operar bem abaixo de sua capacidade usual do ano regular.
Apesar do calor úmido e sufocante de Porto Alegre durante o verão, Pedro preferia este período do ano, afinal, a cidade ficava mais calma e silenciosa, boa para caminhadas, ou para ir ao cinema, pois tudo ficava mais vazio. Parecia que até mesmo os habitantes reduziam o ritmo neste período, tornando-se mais tranquilos e humanos.
Os dias mais longos em decorrência do horário de verão e as férias da faculdade eram um verdadeiro convite para que, ao sair do trabalho, Pedro cevasse um chimarrão e ficasse lá sentado nas escadas da pensão, observando silenciosamente o movimento de carros e pessoas na rua. Elas iam de um lado a outro, parecendo, na verdade, vindos de lugar algum e indo para destino semelhante.
Num destes fins de tarde, enquanto sorvia um mate para espantar o calor e observava o movimento na avenida, viu Chico se aproximando. Ao ver Pedro ali sentado, foi logo exclamando:
“- Cara! Vai tomar um banho e colocar uma roupa que nós vamos sair hoje! Temos uma festinha para ir!” disse ele, com um tom engraçado na voz.
“- Festa? Que festa? Não ‘tô’ afim de sair não. Vou ficar por aqui, mas vai tu lá.”, respondeu Pedro, sem nem ao menos olhar para seu interlocutor.
“Deixa de ser veado! Por que não quer sair? Ainda pensando na morte da bezerra? A bezerrinha aquela que tu só sabe o nome, aposto?” disse Chico, agora com ar de deboche e reprimenda.
Pedro resignou-se a responder um quase inaudível “Não enche!” e prosseguiu em sua contemplação vespertina.
“- Só te digo uma coisa: se sou tu, eu iria! Tenho a informação de que algumas gurias do DCE estarão lá também. Quem sabe, a “dona“ Bebel não dá as caras na festinha?”, disse Chico em tom de desdém, como se o que estivesse dizendo não fosse algo relevante para a decisão de Pedro em ir ou não.
A última frase de Chico atingiu Pedro de maneira certeira e fulminante. Após ouvir o nome de Bebel, parece que todo o cansaço e preguiça, que há poucos instantes o deixavam quase sem forças até para respirar, sumiram como em um passe de mágica, sendo substituídos por um ânimo novo, uma vontade de ganhar as ruas para esticar as pernas e ver pessoas diferentes.
“- Que horas saímos?”, perguntou, já se levantando do degrau onde estava sentado.
“- É só às onze horas, portanto, te acalma e senta aí de novo. Sairemos umas dez e meia, ok?”, disse Chico, já subindo os degraus da soleira da pousada, para dar uma cochilada antes de cair na noite, afinal, não eram nem oito horas ainda.
Pedro, como era de seu feitio, já havia começado a pensar em Ana e na ótima oportunidade que teria - caso Bebel aparecesse na festa - de obter mais informações para falar com ela de novo. Hoje teria que dar certo!

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