sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Em algum lugar, não muito longe daqui... (ParteXXVI)

Muito antes do horário de sair, Pedro já estava pronto. Banho tomado, cabelo penteado com muito esmero e barba feita. Tinha a impressão de que naquela noite a sorte iria lhe sorrir.
No horário marcado, Chico desceu para que pudessem ir à festa. Caminharam calmamente até o local, que ficava na Rua João Alfredo. Andar por aquelas ruas, ainda mais com uma temperatura agradável como a daquela noite, trazia muita paz e tranquilidade para Pedro. A junção dos mais diferentes tipos de pessoas que circulavam pelo bairro, lhe dava a impressão de se tratar de algum tipo de experiência antropológica bizarra.
Em frente ao bar, avistaram algumas pessoas, que conversavam animadamente, em meio a nuvens de fumaça dos cigarros e copos plásticos contendo cerveja.
Ao perceber que ainda não havia fila formada para entrar, possivelmente por ser muito cedo para o padrão da Cidade Baixa, resolveram matar algum tempo, tomando algo ali pela rua mesmo. Também, este fato se devia ao custo elevado da cerveja dentro da festa, em relação ao preço encontrado nos botecos da região. Beber antes de entrar em alguma festa é prática comum, por baratear os custos para ficar bêbado, quando este é objetivo primordial da noite.
Observavam de longe o movimento em frente ao bar. Ao perceberem que a fila recebia membros de maneira um pouco mais intensa, trataram de dirigir-se para junto da formação a fim de pagar o ingresso e sofrer a “revista” dos seguranças.
O bar foi montado em um velho casarão, possivelmente do início do século XX, totalmente reformado e transformado para receber os frequentadores. No andar térreo, ao cruzar pela porta de entrada, havia um pequeno hall, onde os dois “Caixas” estavam posicionados e uma porta corta som, responsável pelo acesso ao salão. O próximo ambiente se parecia com um daqueles "pubs" ingleses. Um longo balcão de madeira em forma de "L", cercado de bancos altos, para quem preferisse ficar por ali tomando uma cerveja e algumas mesas espalhadas pelo ambiente. Os diversos cartazes antigos que cobriam nas paredes e a meia-luz ajudavam a tornar o ambiente mais aconchegante.
Do lado esquerdo, havia uma escada que levava para o próximo andar. O segundo piso era formado por um enorme espaço, entrecortado por alguns pilares, porém, só havia mesas nos cantos, e um pequeno balcão com bebidas
no fundo. A iluminação era fraca e o som extremamente alto. Aquele local fora pensado para servir como a “pista de dança” do bar. Algumas luzes coloridas de neon completavam a caracterização.
Foi neste segundo andar que Pedro e Chico decidiram montar guarda. Pediram duas cervejas ao garçom, pegaram uma mesinha próxima de uma janela e passaram a observar as poucas pessoas que já dançavam animadamente, ao som de alguma coisa parecida com música eletrônica, mas que nenhum dos dois era capaz de reconhecer.
Não muito tempo depois, alguns conhecidos de Chico chegaram e, desta forma se formou um grupo deles no canto. A noite transcorria sem maiores percalços. Algumas meninas dançavam e tomavam drinques coloridos, os rapazes, sempre com uma mão no bolso das calças jeans e o outro em um copo de cerveja ou whisky.
Em determinado momento da noite, enquanto Pedro discutia com um barbudo sobre cotas raciais e sociais em universidades públicas, recebeu um peteleco na orelha. Sentiu uma dor lancinante percorrer sua espinha e uma sensação de que sua orelha estava pegando fogo.
Quem diabos faria uma brincadeira tão idiota? Porque alguém se divertia cometendo um ato de agressão como esse? Não interessava quem tinha feito, ia tomar um esporro ‘daqueles’! Ora, onde já se viu? Pedro virou-se, com uma das mãos sobre a orelha atingida, pronto para mandar quem quer que fosse para a puta que pariu, porém, mudou rapidamente de planos quando percebeu de quem se tratava.
(Continua...)

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