terça-feira, 15 de outubro de 2013

Em algum lugar, não muito longe daqui... (Parte XXIX)

Pedro não saiu no sábado à noite, apesar da insistência de Chico, que após incessantes investidas, mandou-o longe e resolveu sair sozinho pela noite da Cidade Baixa. Ele entendia que precisava se preservar para encontrar Ana no domingo e, por isso, não deveria se esbaldar na madrugada.
Custou a dormir, pois passou muito tempo a imaginar o reencontro. Ficou lá, deitado no escuro, tendo mil ideias de como seria a abordagem, o diálogo entre os dois, o desenrolar da conversa. Tinha uma grande expectativa, mas também, certo temor de sofrer uma decepção. Ela podia ignora-lo, ou trata-lo de maneira ríspida. Trabalhava sua mente de maneira a travar sua euforia.
Acordou cedo e bem disposto naquela manhã ensolarada de janeiro. Preparou o chimarrão e ficou lá sentado no lugar habitual, vendo o escasso movimento das ruas. Seu coração acelerava de tempos em tempos, normalmente, quando os pensamentos sobre Ana eram retomados.
Aquela manhã transcorreu sem grandes sobressaltos, bem como o almoço. Após sair da mesa, correu para o único banheiro do segundo andar. Fez a barba, que cultivara durante toda a semana, com muito esmero. Cobriu os pequenos pontos de sangue com papel, ao mesmo tempo que vistoriava com afinco seu rosto, em busca de alguma espinha ou pelo esquecido. A seguir, tomou um demorado banho, esfregando cada parte de seu corpo duas ou três vezes, a fim de garantir que nenhum lugar fosse esquecido.
Ao retornar para o quarto, percebeu que Chico ainda dormia, com metade do corpo para fora da cama, numa posição que desafiava algumas leis da física. Possivelmente, estava bêbado demais quando chegou e não conseguiu nem mesmo levar o corpo inteiro para a posição correta, mas Pedro não estava interessado nisso. Passou desodorante e sua loção pós-barba de aroma marcante, amadeirado e forte, que ganhara de seu pai há algum tempo. Também perdeu longos minutos tentando ajeitar seu cabelo, que não via uma tesoura desde meados de novembro. Por fim, infligiu uma quantidade exagerada de gel sobre todos os fios, moldando-os de forma com que parecessem menos horrorosos.
Escolheu a roupa cuidadosamente. Não poderia colocar sua surrada camisa do Grêmio de 1995, ou então, alguma camiseta de banda de rock. Preferiu uma bermuda azul escura com bolsos dos lados, uma camiseta branca e seu tênis All Star sem meias.
Fez um novo mate e, antes das 14h, dirigiu-se ao Parque Farroupilha, posicionando-se próximo ao Espelho da Água e do Monumento ao Expedicionário, debaixo de uma árvore de copa frondosa, que lhe fornecia uma bela sombra para seus momentos de espera.
(Continua...)

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