sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Perplexidade...

Este não é um texto de ódio ou raiva. É um texto de resignação com tudo que está acontecendo. É uma tentativa de explicar o inexplicável, compreender o incompreensível.

Confesso, estou um pouco cansado disso tudo. De todo esse circo montado nos últimos tempos, envolvendo o Grêmio, Aranha e a Patrícia. Estou cansado de parte a parte, com as manifestações racistas na Arena - ou em qualquer lugar do planeta -, das colocações do sr. Aranha, chamando o povo do Rio Grande do Sul de racista e sendo raivoso, cansado da imprensa, que em busca dos cliques e de leitores, promove a degradação de pessoas, a banalização de crimes, tornando qualquer discussão séria sobre temas sensíveis, algo raso e vazio.

Eu, enquanto gremista, e indo contra tudo o que está sendo dito, posso afirmar, categoricamente, que as vaias para o sr. Aranha, no jogo de ontem, não tinham qualquer relação com a cor de sua pele, tampouco serviam de apoio às manifestações da Patrícia. Não era disso que se tratava.

Eram vaias para um jogador que, com todo esse clima tenso e pesado no ar, tentou provocar a torcida, caindo a cada contato (ou mesmo sem qualquer contato), simulando fatos que não existiram. Foram vaias para um cara que, desde o ocorrido, não tentou contemporizar em nenhum momento. Destilou toda sua raiva - e xenofobia -, contra o povo do estado "mais racista do país".

O sr. Aranha citou a religião católica para dizer que precisava ouvir um pedido de perdão por parte da Patrícia, pois somente assim, seria capaz de perdoar. Sou ateu, mas mesmo assim, sei que quase todas as religiões do mundo pregam o perdão sem qualquer contrapartida ou pedido. "Ofereça a outra face" são palavras de Jesus, não minhas, e estão muito longe do discurso do jogador neste caso. Como cristão, falou uma imensa bobagem. Como pessoa, também.

Em outra entrevista, ele citou Martin Luther King como uma pessoa a qual ele admirava. Confesso, também admiro o sr. King. Ele lutou pelo que acreditava, "ele tinha um sonho", que por sinal, compartilho. Uma sociedade justa, que não enxerga cor, não enxerga credo. Onde a única distinção possível seria de pessoas boas versus pessoas más. Mas o sr. Aranha, creio, não entendeu o recado de Martin Luther King. Em nenhum momento, em qualquer de seus famosos discursos, as palavras de Luther King eram palavras de ódio. Pelo contrário, sr. Luther King antes de mais nada, pregava amor entre as pessoas, coisa que passa muito longe do que apregoa o goleiro do Santos.

Alguns acusam a mídia - e com razão - de ser peça importante para que o fato ganhasse a dimensão que ganhou. Mas sendo franco: a imprensa é o reflexo da estupidez de nossa sociedade. Se eles falam sobre algo e insistem nisso, é porque do outro lado existem consumidores ávidos por esse tipo de material sensacionalista. É um ciclo infinito de imbecilidade, que em nada contribui para resolver o problema. É a velha máxima de "apagar incêndio com gasolina". Para a imprensa, não é interessante que os problemas sejam resolvidos de maneira serena. Isso não venderia jornal ou renderia cliques em suas páginas e blogs. É preciso criar o caos, pois o caos vende.

As coisas só vão melhorar quando TODOS assumirem sua parcela de responsabilidade nisso. Todos nós somos culpados pelos insultos racistas que Aranha recebeu, assim como, todos somos culpados pela casa incendiada de Patrícia. Se não proferimos xingamentos, ou não acendemos o fósforo, somos responsáveis, aos menos, por carregar a hipocrisia em nossas mentes e ações, seja condenando sumariamente a garota, não lhe dando ao menos os direitos garantidos pela Constituição Federal – o contraditório e a ampla defesa -, seja por achar que o Aranha tem a capacidade de se tornar símbolo de qualquer causa da qual participe. Em ambos os casos, a hipocrisia impera.

 

 

*Observação: Antes que alguém ache que estou desviando o foco, minha opinião é que a tal Patrícia deve sim responder pelo seu ato imbecil e sem sentido em caso condenada (pelo órgão competente), deve cumprir a pena estipulada. Agora, achar que porque sofreu preconceito estás autorizado a agir feito um idiota, com isso não posso concordar.

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