quinta-feira, 19 de março de 2015

Inferno de Dante

Quando alguém escreve ou comenta sobre a situação precária dos presídios no Brasil, sempre aparece algum elemento que se traveste de um senso de justiça – no mínimo estranho -, empunhando a bandeira de que "bandido merece isso mesmo", ou então, que "presídio não é hotel para vagabundo comer e dormir em cama macia, de graça, ainda por cima".

Realmente, um sistema prisional não deve servir como hotel. Mas também, não foi feito para ser um depósito de gente, ou pior, um estábulo (inclusive, creio que existem estábulos mais limpos que alguns presídios). Os presídios têm a função de recuperar pessoas que estão à margem da sociedade, em decorrência dos delitos cometidos, e não punir seus ocupantes como se fosse uma filial do inferno descrito magistralmente por Dante.

Não sou um defensor dos direitos humanos, tal como deputada Maria do Rosário, que na minha modesta opinião, é um tanto hipócrita em sua atuação, mas tenho a convicção que manter os presos em condições humilhantes como as que encontramos hoje, não é a solução para a diminuição da criminalidade. Só para fins comparativos, enquanto a Noruega tem uma taxa de reincidentes girando em torno de 20%, no Brasil, 70% dos presos cometem novos crimes assim que voltam à sociedade.

Não tenho o sonho de que o Brasil chegue ao nível da Noruega, pelo menos não nos próximos trezentos anos. Mas abandonar de vez os criminosos no lixão que são nossos presídios, é de um mau-caratismo ímpar e não ajuda em nada na melhora dos números horrendos apresentados por nosso "rico" País.

Claro que oferecer celas sem superlotação e latrinas razoavelmente limpas sem qualquer contrapartida é uma incoerência. Precisamos mudar algumas práticas - e nossas leis -, para que o próprio preso pague por sua estadia na prisão através do trabalho.

Ao invés de passar os dias ociosos, enviando mensagens de texto com falsos prêmios ou fazendo ligações de sequestros de filhos que não temos, esses presos deveriam ser obrigados a produzir algo útil à sociedade. Seja através de parcerias público-privadas, seja através de sua utilização pelo Estado para tarefas como tapar buracos em estradas, ou o auxílio para construir casas populares.

Não sei, posso até estar errado, mas creio que não seja algo impossível de fazer funcionar. Basta um pouquinho de inteligência e uma pitada de vontade política. Ou então, que se meta o dedo na ferida! Que o Estado faça sua mea-culpa e assuma que não tem condições de cuidar disso. Que passe a responsabilidade para a iniciativa privada em forma de uma concessão pública. Porém, que não deixe de fiscalizar com rigor o que está sendo feito por estas empresas.

O que não podemos mais permitir é a hipocrisia que reina neste país. Colocamos os problemas debaixo do tapete, com a esperança utópica que eles desapareçam sozinhos por sublimação ou passe de mágica. Não existem milagres, apenas trabalho e força de vontade, coisas que nossos governantes, infelizmente, não possuem.

Por fim, para ilustrar, leiam esta matéria sobre a Noruega, e depois me digam que não gostariam de ser como eles, ao menos por um momento.

 

Nenhum comentário: