quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Canção de Viver com Você

Tem uma música do Benito Di Paula, chamada "Canção de Viver com Você" que, na minha inócua e desimportante opinião, trata-se de uma das mais belas obras musicais feitas em solo tupiniquim. Na letra, um desgostoso protagonista narra, melancolicamente, as agruras que um amor aparentemente mal resolvido causou em sua vida.
Frase após frase, o protagonista conta como a tristeza tomou conta do seu ser e o foi diminuindo. O clímax da canção é quando o personagem da narrativa, num pedido desesperado, e com uma voz embargada, promete se ferir, ou então se humilhar, somente pelo prazer de reviver seu amor.
Apesar de ter sido apresentado à esta música há muitos anos, em um domingo qualquer, quando meu pai ouvia os discos do Benito em seu toca-discos Philco-Hitachi, ainda tenho a capacidade de me emocionar com cada um dos versos interpretados magistralmente pelo "Crooner".
Trata-se de uma canção visceral, daquelas que hoje não temos mais a capacidade de criar, pois não temos mais tempo para sofrer as agruras de um amor não correspondido. A dor do amor se perdeu, em meio à superficialidade de redes sociais e de um mundo cada vez mais individualista. Hoje, é tão simples e fácil trocar o telefone celular, o carro, e o amor, que não nos permitimos sofrer daquela dor que queimava o peito, derramando lágrimas sinceras sobre uma epístola de despedida.
Hoje não se sofre por amor. Sofremos por tartarugas marinhas e cães abandonados. Sofremos pelo novo Iphone e com os personagens de algum reality show. O amor foi relegado ao segundo plano, e a dor causada por ele, então, está na zona do rebaixamento. O amor é descartável, como o lixo que reciclamos, ou como aquela música nova da rádio. As pessoas não sofrem mais por amor, tampouco escutam Benito.
Me sinto um privilegiado em conseguir ouvir Benito, e ainda lembrar daquela coisa gostosa que era a dor de uma paixão platônica (e tive muitas), ou dos "foras" que levei (e foram vários). Tudo isso moldou minha personalidade e minha inteligência emocional. Se hoje me sinto totalmente capacitado para amar e ser amado, é por que lá atrás, fui capaz de afundar em "fossas" profundas e duradouras. Amei e me machuquei, tantas as vezes quantas me foram permitidas, e sou grato por isso.
Hoje, cada vez mais nos fechamos, escondendo-nos atrás de computadores, com medo de pessoas, pois não temos mais a capacidade de amar. Amar, hoje, é trocar o "status nas redes sociais. Atualmente, sofrer por um amor que acabou tem a mesma duração e a profundidade de uma música de um destes “sertanejos universitários”. As pessoas não saberiam mais ouvir Benito, tal como não sabem sofrer por amor. Uma pena.

2 comentários:

Jana disse...

Sempre é um prazer inenarrável ler os teus textos. Ainda não entendo porque não tentastes publicar algo abertamente ao público!
Muito bom, amei!!!

Saulo disse...

Um dia, quem sabe... penso nisso, vez ou outra.

Obrigado!