sexta-feira, 4 de setembro de 2015

O menino de camiseta vermelha e os nossos erros

Poderia gastar milhares de linhas, folhas, páginas na internet, discorrendo longamente sobre o quão chocante é a imagem de um menino jogado na areia de uma praia. Cabeça enterrada na areia, corpo sem vida, de camisetinha vermelha e bermuda azul. Pessoas olham a cena e choram, comovidas. Eu mesmo, ao ver aquele cenário pela primeira vez, senti aquele nó ruim que trava a garganta e mareja os olhos. Não quero vê-la novamente.

O sentimento geral, quero acreditar, seria o de pegar aquela pobre criança no colo e protegê-la, deixando-a dormir ternamente em nossos braços, para que o mau não a alcançasse nunca. Mas não o fizemos. Falhamos, novamente, e como sempre.

Como falhamos com nossos índios, que morrem de doenças de branco em aldeias invadidas por garimpeiros, fazendeiros, ou qualquer um que possua armamento e a sede da pilhagem. Escravizados, sendo forçados a esquecer sua cultura e costumes, catequizados para tornarem-se “filhos de deus”.

Erramos de novo, como erramos com nossos haitianos e senegaleses que desembarcaram no Brasil, e que só querem uma oportunidade de ter uma vida melhor, em uma espécie de sonho americano-tupiniquim, mas que foram largados em centros comunitários, à margem da sociedade, relegados e escondidos, como se sentíssemos vergonha deles, quando, na realidade, deveríamos sentir vergonha de nós mesmos.

Falhamos miseravelmente repetidas vezes, como na chacina da Candelária, há quase 25 anos, onde oito menores de rua foram assassinados por um grupo de extermínio. E continuamos errando quando um daqueles menores, traumatizado e sozinho, em 2000, sequestrou um ônibus da linha 174, no Rio de Janeiro. O desfecho trágico, onde Sandro Barbosa, o sequestrador, e Geisa Gonçalves, feita refém, foram mortos, é só mais uma mostra de que a raça humana é basicamente uma sucessão de erros.

Poderia passar o restante dos meus dias citando as falhas da humanidade, principalmente no que tange ao simples fato de respeitar o seu próximo e suas diferenças. Mesmo as religiões, que em geral, em sua cerne pregam o amor ao próximo, são causadoras de muitas das guerras já ocorridas. Antissemitismo, dinheiro, conquista de territórios e demonstração de poder são outros fatores que tornam os seres humanos a pior raça que já pisou no planeta Terra.

Erramos com aquele pequeno garotinho de camiseta vermelha, morto com o rosto enfiado na areia pois, como sempre, não fomos capazes de protegê-lo de nós mesmos. Talvez, se ele tivesse sido criado por uma alcateia de lobos, como ouvimos algumas lendas versarem, ele estaria protegido de nós, seres humanos, racionais e burros, e não sem vida, jogado no chão como um pequeno pacote descartável, nos fazendo lembrar o quão ruim o ser humano pode ser.

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